Logo que
a gente engravida, a gente já começa a pensar adiante. Fica querendo organizar
e controlar tudo. Até o(a) filho(a) nascer, ficamos tendo diversas
oportunidades de controlar as situações: escolhemos o quarto como a gente
quer (ao menos tudo que dá pra fazer dentro do orçamento que temos disponível); escolhemos as roupas que ele vai usar; escolhemos o nome; organizamos nossa
alimentação (aliás, coisa que cuidei muito na gravidez! Sem paranoia – que não
é o meu perfil – mas caprichei! Com a ajuda do maridão a coisa se manteve bem
caprichada pelos 9 meses); A gente cuida da saúde, tira o tempo necessário para
exercícios. E mais
uma coisa que eu achava que poderia escolher era o tipo de parto. E minha opção
sempre era o parto normal. E passei os meses me organizando pra isso. Pensava
em como ia me preparar. Sonhava no que podia acontecer logo antes dele nascer e
logo depois.
Mas um
filho também vem pra nos provar que não podemos controlar tudo. E tenho
aprendido muito sobre isso com o Nicolas. E eu, que até então me achava bem leve e bem
tranquila a respeito do destino pro qual a vida me levasse, estou vendo que não
sou bem assim!! E, como mãe, tenho muito a aprender sobre ter ou não o controle
das coisas.
(outro
ponto dentro disso: como mãe, a gente passa a se conhecer melhor!!)
A
primeira lição foi essa: a do parto. Passei 9 meses imaginando um parto normal.
Lendo a respeito, me preparando para sentir a dor, para enfrentar as dificuldades deste momento. E amando as alegrias que esse momento gera. Pelo que eu sinto e acredito, eu tinha que ter meu filho de parto normal para
que o nascimento dele fosse o ideal. Para que ele viesse ao mundo da melhor
forma e se sentisse abrigado, após também passar por sentimentos intensos que o
parto deve gerar num bebê. Eu achava que só o parto normal poderia fazer uma
relação completa para um bebê e seus pais. Achava que tinha que ser parto
normal para que ele viesse na hora que tinha que vir e não “forçado”. Eu não
queria ter que passar por um pós cirúrgico que muita gente me falava de dores,
de dificuldade. Não queria não poder ficar logo em pé e pegar meu filho no colo
o tempo todo por causa de uma cirurgia. Me falavam também que após uma cesárea
se tem dificuldades de subir e descer escadas e eu tenho escada em casa. Eu
tinha receio da anestesia complicada da cesárea. Também ouvia casos do leite
não descer depois de parto cesárea. Frente a essas e outras análises, além da
minha forma de pensar, na minha cabeça a melhor opção sempre foi o parto
normal.
Mas isso
era o que eu ACHAVA que podia escolher.
O
Nicolas sempre foi um bebezão! Os exames sempre mostravam um percentil acima da
curva. E nos últimos exames da gravidez ele chegou a ser avaliado com percentil
90 (pra quem não sabe e quer saber: percentil é um padrão de medida
estatística, que reflete a relação que o peso/tamanho do bebê estão em relação
à distribuição normal de bebês, em relação à média. No caso de um percentil 90,
isso quer dizer que apenas 10% dos bebês são mais pesados/maiores do que este.
Um percentil 50 quer dizer que peso e tamanho do bebê estão exatamente junto à
média). Pelo 7º mês, o obstetra me alertou que eu tinha um bebê grande e que isso iria
dificultar o parto. Mas eu nunca me preocupei, pensava que isso significaria
sentir mais dor (pela qual eu estava disposta a passar).
E aí, na
consulta da 39ª semana, o médico observou que eu não tinha dilatação, ou nenhum
outro sinal de trabalho de parto. O que indicava, segundo ele, que
provavelmente o Nicolas não nasceria na 40ª. semana. E que isso significaria
também que ele iria aumentar ainda mais de peso até nascer de parto normal. E
nesta consulta ele nos pediu para considerar o parto cesárea, que seria a
indicação dele. Falou dos riscos de um parto normal nessas condições de mãe
pequena, de bacia estreita e bebê grande.
Eu nem
lembro se já nessa hora eu chorei ou se o choque foi tanto que me impediu até
de chorar. Acho que o Felipe também ficou meio sem chão quando o médico começou
a dar opções de datas. Como assim teríamos que escolher o dia do nascimento?
Até aquele momento, nunca tinha passado pela nossa cabeça que a
responsabilidade pela escolha do dia do nascimento do filho seria nossa.
O médico
pediu pra irmos pra casa pensar a respeito e ligar no dia seguinte. E foi
uma noite complicada pra mim. Tenho dificuldade até hoje, escrevendo este
texto, de pensar nessa decisão.
Por mais
que, conscientemente, eu saiba e tenha segurança de que foi a melhor escolha, a
mais controlada... fica aquela pulga atrás da orelha de algo que eu não tenho
como saber como teria sido.
E convencida,
então, de optar pela cesárea, o que eu queria era aguardar o início do trabalho
de parto para daí fazer cesárea. Mas o Nicolas não deu sinais, não tive nenhuma
mínima contração e acabamos decidindo por marcar um dia.
Sei que
não sou menos mãe por ter feito cesárea. Que tive como demonstrar o afeto, o
acolhimento ao meu filho. Eu pensava que eu mesma nasci de parto cesárea e nem
por isso acho que tem algo de diferente ou diminuído na minha relação com meus
pais. Mas tem outras coisas pelas quais não passamos que sei que teriam sido
especiais, coisas mais do plano espiritual, talvez. E eu ainda acho que o parto
normal é melhor. Mas tenho certeza de que a cesárea é uma opção incrível da medicina.
Hoje em
dia é foda ouvir as pessoas dando exemplos de filhos que nasceram enormes de
parto normal. De gente dizendo que uma vez não era opção fazer cesárea e as
pessoas sobreviviam. Que os bebês quebram a clavícula no parto e isso não é nada.
Como se eu não precisasse ter optado pela cesárea... E eu sei que não era um
caso de vida ou morte. Mas concluímos que seria um caso de sofrimento. Optamos
por aquilo que deixou nossos corações mais tranquilos, nossas cabeças mais
calmas naquele momento.
Eu ainda
choro ao ver programas mostrando parto normal ou histórias de parto normal. E
me irrito quando lembro do mal que passei por causa da anestesia. Mas a razão
falou mais alto que o coração e do que a minha própria vontade.
E o Nicolas chegou no dia 14 de janeiro de 2014 às 11h18, chorando antes mesmo das perninhas terminarem de sair da barriga, com apgar 9/10. E logo veio para os meus braços e nada mais importou naquele momento! Que tipo de parto, que nada! O importante é ter o filho nos braços, ver o rostinho dele finalmente "em cores", se apresentar, deixar ele te ver além de te ouvir. Acho que não tem emoção maior do que este momento! Aqueles minutos em que ele está prestes a sair da barriga, chora e depois vem pros seus braços são eternos! Não importa como tenha sido antes disso, o que importa é a saúde, estar abraçado ao seu companheiro e seu filho e é isso que fica pra sempre no coração. É muito especial ver que seu filho logo se acalma, fica com olhar sereno e presta atenção ao ouvir você falar logo da primeira vez. Eu queria poder descrever melhor o que é este momento, mas não existem palavras que descrevam. É puro sentimento! A maior emoção de nossas vidas.
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