Essa história não é nova, mas vale ser contada aqui...
Eu tenho uma gata. a Lisa. na verdade, Monalisa é o nome, mas a chamamos de Lisa. Como em Lisa Simpson.
Adotei ela quando a encontrei no pátio de uma casa, vizinha da minha sogra (onde na época ainda morava meu namorado). E ela estava quase em vias de ser morta com veneno pela moradora da casa, que odiava a gata mãe que vivia por ali miando quando estava no cio e sempre gerando mais filhos gatos que rondavam a casa dela.
Salvei a Lisa da morte. Mas não com total consenso da bichana. Essa gatinha de um mês de idade, que cabia na palma da mão, foi tinhosa pra ser "resgatada". Correu até se esconder num cano de esgoto, de onde meu namorado a puxou. Depois dele tomar vários arranhões, tivemos que a segurar numa toalha pra não desistirmos de levá-la pelas arranhadas ininterruptas, de tanto pavor que estava a pobrezinha. Mas até então, eu nem sabia qual era o sexo do bicho. E muito menos estava atrás de um gato pra morar comigo.
Como era um domingo, fiquei com ela em casa pra no dia seguinte levar a um veterinário. E ia pesquisar alguém que quisesse ficar com ela.
Mas fui me apegando e começando a considerar a ideia de ter uma roomate. Ainda assim, meu primeiro pensamento foi que se fosse uma fêmea, eu não ficaria com ela. Ia doar pra uma instituição ou pra alguém que estivesse a procura de um gatinho. Porque gata fêmea dá mais trabalho, tem o cio. Teria de qualquer forma que castrá-la.
Era fêmea. E eu já tinha passado uma noite com ela. Que dúvida que já estava me apegando desde o momento que a vi.
Parênteses: eu ADORO animais. Sempre, sempre tive cachorros. Mas também já tive passarinho, criei ovelhas na chácara, cavalos e vacas no campo... até um veadinho nós já tivemos. Mas gato... só tive 1 na infância. Um que nem conviveu muito comigo, pois vivia na chácara. Por isso eu nunca tive, antes da Lisa, a experiência de conviver com o gato e saber como ele "funciona". Mas desde que vim morar em Porto Alegre, estava distante dos meus bichinhos. E com saudade de ter um mais perto. Fecha parênteses.
Eu morava sozinha, tinha acabado de entrar num emprego em que eu trabalhava em casa. Óbvio que uma companhia seria muito bem vinda. Pronto. Não tinha mais volta, fiquei com ela.
Lisa e eu moramos sozinhas por alguns meses. Eu em casa durante o dia inteiro, trabalhando em casa, saindo apenas às vezes durante o dia, mais durante a noite.
Com uma presença bem constante, o vínculo foi formado rapidamente. Fomos criando alguns hábitos, tendo algumas rotinas. Fui aprendendo como um gato funciona. E principalmente como a Lisa funciona. Porque aprendi que cada gato tem seu jeitinho. Uns mais carinhosos, uns mais sociais, uns mais caseiros, outros mais passeadores, uns mais, outros menos brincadlhões. Entendi seus hábitos noturnos. Adorei sua higiene. Observei o que ela me dizia com o movimento do seu rabo.
Mas nunca acreditei que a lealdade de um bichano seria como a de um cão.
Aprendi até a ser melhor pessoa. Aprendi a respeitar e entender mais a vontade dos outros. Porque um gato tem suas vontades e faz a gente aprender com elas. Porque tratar um bicho só mandando nele, com ele fazendo só o que a gente quer, não é uma troca justa. Aprendi que gato responde ao ser chamado pelo nome. Que brinca com a gente e com objetos que damos pra ele (quando aprendemos qual é o certo!). Que os pulos de um gato atrás de um inseto são lindos de ver. Que eles amam correr atrás de uma laser point. Que morder pode ser brincadeira. E fui aprendendo também cada vez mais da própria Lisa. Que ela nunca superou direito o trauma de humanos. Que ela demora pra se aproximar e confiar realmente em alguém e se entregar pras pessoas. Que ele se assusta fácil com barulhos bruscos. Que ela adora tomate, salmão e leite condensado - salada, prato principal e sobremesa! :) Que ela se adapta bem aos lugares depois que damos o tempo pra ela se interar e sentir que é bem-vinda.
Mas só depois de muito tempo aprendi como ela é fiel. E como cria um vínculo especial com a pessoa que a adota.
Depois de sermos só eu e ela por algum tempo, recebemos meu namorado pra morar conosco. Ele já convivia bastante com a Lisa, brincava muito com ela. E claro, nem sentiu-se mudança brusca, pois já era natural ele conosco.
E depois de anos já vivendo os 3 juntos, ela teve uma reação que não esperávamos: no meio de uma brincadeira minha e do felipe, em que "brigávamos" no sofá, eu lutando contra suas cócegas torturadoras e gritando pra ser salva e fugir dali, nossa gata chegou perto e mordeu ele! A reação dele foi de parar na hora. E rimos, achando que ela queria participar da brincadeira. Ao continuar a brincadeira, ela voltou a morder. Outro dia, no meio da mesma função, ela volta a mordê-lo. E foi além, fazendo aquele tshhhhhhh de braba, que um gato faz com a boca, para afugentá-lo. Opa, ela não estava querendo participar da brincadeira, ela estava brigando com ele pra parar de fazer aquilo comigo.
E aconteceu repetidas vezes, com ela só fazendo isso pra cima do Felipe no meio dessa brincadeira, nunca pra cima de mim - porque quem sofria era eu, claro!
E vimos que ela notava minha angústia com as cócegas torturadoras. E que queria me proteger.
Hoje o felipe tem mais uma razão pra se divertir: além da minha angústia pelas cócegas, tem a atitude da Lisa pra cima dele. E ele adora essa brincadeira que nos provoca. Pois é a nossa brincadeira, como crianças que brincam de bater até alguém chorar.
Mas eu sei que a minha gata é leal a mim. A minha gata me defende.
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