tô fora
daqui uns dias eu volto!
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Deve haver um lugar
Uma dimensão perdida
No espaço entre nossas vidas
Onde estamos juntos
Com uma casa esperando filhos
E na parede uma foto
Onde a barra do teu vestido de noiva
Carrega as marcas da dança
E teu rosto um sorriso de aliança
Deve haver
Em algum universo
Paralelo
Ponteiros que esperam
Que eu volte do trabalho
Com um vinho para a janta
Com as fotos impressas
Do último fim de semana
E sobre a cama
Você aguarda
O beijo
Minha boca em teu seio
Deve haver um mundo alheio
Onde somos inteiros
Vidro
Minha janela
Tem um vidro
Quebrado
Sempre quebra
Do mesmo lado
Esquerdo
Já não troco mais
O vidro
Trincado
Sempre o mesmo vinco
Repetido
Sempre a mesma frase
Cortante
O que essa palavra
Esse eco de vidro
Quer dizer aos meus ouvidos?
Não fique
Não pare assim tão perto
Que os olhos não disfarçam direito
E arrancam teu vestido
E não é bom que todos vejam
Tua nudez em meus olhos
Não cruze assim
As pernas
Que me vejo entre tuas coxas
Procurando o céu em teu ventre
E não há quem aguente
Sonhar o que a cama vazia desmente
Não fique nunca ao meu alcance
Exigindo do corpo a mais forte das forças
Que arrombo as portas da tua roupa
Quero
Eu quero a delicadeza
Mesmo que o dia
Lá fora
Não me deixe esquecer suas horas
Com a data marcada de agora
Onde o amor já não diz nada
Eu quero a inversão maior
Amar de fora
Para dentro
Um amor de pétala
Cheio de cuidado
E entrega
Uma oferenda branca
A uma santa negra
Que não se importa
Com quem lhe dá as costas
Em sua fé crucificada
Quero a voz segura
Para rezar essa palavra
Com as mãos espalmadas
De quem oferece
Em sua prece
Quero não ter medo
De acabar ridículo
Pregando em uma praça
Caindo em desgraça
Xingado aos gritos
(Nada mais maldito
Que um amor bonito)